Conectando vidas: estratégias essenciais para a redução e eliminação da solidão, e promoção de bem-estar social

Nos artigos anteriores, exploramos a solidão como uma “epidemia invisível” e desvendamos seus profundos impactos na saúde física e mental. Agora, é o momento de transitar da compreensão para a ação. O objetivo é claro: identificar estratégias eficazes para a redução e eliminação da solidão, e promoção de um bem-estar social duradouro. Afinal, a conscientização é o primeiro passo, mas a intervenção e a prevenção são as chaves para uma sociedade mais acolhedora e conectada.

Consciência e ação
A percepção de que a solidão não é um problema isolado, mas uma questão de saúde pública, nos impulsiona a buscar soluções. É fundamental que a sociedade evolua na forma como lida com esse sentimento, oferecendo acolhimento e facilitando a conexão. O Dr. Rodrigo Schultz enfatiza a necessidade de uma mudança social:

“A sociedade sempre necessita se transformar, evoluir. […] E a maneira é acolher e compreender o que está acontecendo com aquela pessoa.”– Dr. Rodrigo Schultz

O poder da conexão social positiva
No cerne das soluções para a solidão está a conexão social positiva. A Dra. Floriana Bertini, especialista em Medicina do Estilo de Vida, destaca a importância desse pilar. Ela explica que, entre os seis pilares tradicionais dessa medicina – alimentação, atividade física, qualidade do sono, manejo de vícios, gerenciamento do estresse –, o sexto e crucial é justamente a qualidade das relações e conexões sociais positivas:

“Qual é o sexto pilar da Medicina do Estilo de Vida? O sexto pilar da Medicina do Estilo de Vida é a qualidade das relações, das conexões sociais positivas. […] um pilar inteiro dentro da estrutura da Medicina do Estilo de Vida, que é com foco em longevidade saudável e bem-estar, baseado no estudo e na importância das conexões sociais positivas.”– Dra. Floriana Bertini

Essa importância é corroborada por um dos estudos mais longos e renomados sobre felicidade, conduzido pela Universidade de Harvard, que já dura 85 anos. Ele comprovou que o principal preditor de felicidade e bem-estar não é a renda ou a saúde física isoladamente, mas sim a qualidade dos relacionamentos. A Dra. Floriana Bertini salienta a qualidade, e não apenas a quantidade:

“E para ilustrar tudo isso, tem o muito famoso, conhecido, o mais longo estudo sobre felicidade, conduzido pela Universidade de Harvard, que está durando 85 anos, em que se comprovou que o principal preditor de felicidade não é a renda per capita, não é a saúde física necessariamente, mas sim o índice de satisfação com a qualidade dos relacionamentos. E eu digo qualidade, não quantidade, embora, claro, a quantidade também seja importante, mas dependendo das características intrínsecas de personalidade de cada um, foi o que o Rodrigo Schultz comentou no início, né? A gente não precisa ser necessariamente a garota mais popular da escola, tá certo? Não é isso. A gente precisa sentir o coração quentinho no encontro com o outro, seja ele quem for e quando for possível.”– Dra. Floriana Bertini

A necessidade de conexão é uma característica profundamente enraizada em nossa evolução. O Dr. Rodrigo Schultz nos lembra de um provérbio africano:

“Se você quer ir rápido, vá sozinho. Se você quer ir longe, vá acompanhado.”– Dr. Rodrigo Schultz

Essa sabedoria milenar ressoa com a história da humanidade. O homo sapiens prevaleceu sobre outras espécies devido à sua inata capacidade de colaboração e conexão. Como ele mesmo ressalta:

“O nosso diferencial como espécie, o diferencial do homo sapiens, é a colaboração. […] Sempre fomos identificados com essa característica extraordinária denominada de colaboração. E colaboração é conexão, ou seja, uma questão da sobrevivência desde o início.”– Dr. Rodrigo Schultz

A Dra. Floriana Bertini complementa essa ideia com uma imagem poética:

“Eu gosto muito de uma imagem, eu não sei o autor dessa frase, mas tem um autor que diz que os homens são como se fossem anjos de uma asa só. E que, para conseguir voar, eles precisam estar abraçados.”– Dra. Floriana Bertini

Essa metáfora nos convida a uma “abertura de asas”, buscando a companhia de outras asas, seja através de um abraço físico ou de um “abraço com os olhos”, que aproxima e acaricia.

Navegando a mudança: autoconhecimento e apoio
Para reduzir ou eliminar a solidão, a Dra. Floriana Bertini sugere abordar a mudança de hábitos por meio do modelo transteórico de Prochaska. Este modelo divide o processo de mudança em etapas, destacando a importância da pré-contemplação, quando a pessoa ainda não enxerga o hábito como um problema), contemplação,reconhecimento do problema, preparação e, finalmente, a ação. A humildade e a acessibilidade à comunidade são cruciais para aceitar ajuda neste percurso.

“Então o que é a pré-contemplação? É aquele momento em que a gente observa para um fenômeno, olha para um fenômeno e não enxerga aquele fenômeno, como se a gente tivesse uma venda nos olhos.” – Dra. Floriana Bertini

O Dr. Rodrigo Schultz adiciona o conceito de identificação como o primeiro passo para o sucesso na mudança de hábitos:

“A identificação é a primeira etapa para o sucesso. […] Esse passo, se ele não existe, não se consegue seguir adiante.”– Dr. Rodrigo Schultz

A Dra. Carla Núbia Borges reforça a necessidade de “atuar no comportamento” e “construir pontes”, permitindo que as pessoas se sintam bem e vivam de forma mais plena. O objetivo final é o bem-estar e o aproveitamento da existência:

“Acredito que muitas, muitas pessoas vão responder com honestidade que o que elas desejam é se sentirem bem. […] E por que se sentir bem? Porque a gente, se sentindo bem, aproveita essa existência de uma forma mais plena.”– Dra. Carla Núbia Borges

O papel da educação e da sociedade
O esforço na solidão deve ser coletivo. A educação desempenha um papel fundamental, tirando a sociedade da pré-contemplação para a contemplação e, em seguida, para a ação. O Dr. Rodrigo Schultz destaca o poder transformador da educação:

“A educação modifica pessoas, hábitos e desfechos. A palavra impacta, a palavra dita e bem compreendida é capaz de modificar o que você pretende para a sua vida.”– Dr. Rodrigo Schultz

Iniciativas como o EducaTES do site encontroemsolidao.com.br e o uso de escalas como a UCLA para mensurar a solidão são essenciais para capacitar profissionais e a sociedade a identificar e abordar o tema de forma eficaz. A Dra. Carla Núbia Borges ressalta que essa abordagem não deve usar palavras que gerem estigma, pois muitas pessoas não conseguem admitir que se sentem solitárias se a palavra for usada diretamente.

A conscientização global também avança. O Dr. Rodrigo Schultz menciona a Comissão para a Promoção da Conexão Social da Organização Mundial de Saúde (OMS) e seu relatório “From Loneliness to Social Connection” como marcos importantes na disseminação de informações e no reconhecimento da solidão como um problema de saúde pública.

Rumo à saúde social
A solidão é um desafio complexo, mas não invencível. Ao longo desta série, vimos que ela é um sentimento universal com profundos impactos na saúde. Mas também percebemos que a chave para superá-la reside na conexão social. A busca por mais e melhores conexões, baseada na compreensão, autoconhecimento e apoio mútuo, é um caminho para o bem-estar integral.

O Dr. Rodrigo Schultz conclui a live com uma provocação importante sobre um conceito que será aprofundado na segunda live: a saúde social como o terceiro pilar da saúde, ao lado da física e mental. Esse conceito representa o objetivo final de uma sociedade mais funcional, saudável e, acima de tudo, conectada.

“O terceiro pilar segundo a OMS é a saúde social, juntamente com a saúde física e mental.” – Dr. Rodrigo Schultz

Que essa série de artigos seja um convite para você olhar para a solidão não com medo, mas com a perspectiva de que, juntos, podemos construir pontes e cultivar um futuro onde a conexão genuína prevaleça, tornando a “epidemia invisível” cada vez mais visível e, finalmente, controlável.